10 de março de 2013

O que é ser mulher? Martha Medeiros

Sempre que chega esta época do ano, prometo a mesma? minhas próximas férias serão tiradas em março. Vou alugar uma choupana em Ushuaia e só volto quando pararem de falar do Dia da Mulher. Apenas para evitar a pergunta que tantos pedem que a gente responsa: O que é ser mulher?
Basicamente, ser mulher é ter nascido com os cromossomos XX. Será que isso responde a questão? Responde, só que de modo desaforado. Espera-se que colaboremos: "Ser mulher é ser mãe, esposa, profissional..." Alguém ainda aguenta essa chorumela? 
Se é para refletir sobre o assunto, então sejamos francos: ninguém mais sabe direito o que é ser mulher. Sofremos uma descaracterização. Necessária, porém aflitiva. Entramos no mercado de trabalho, passamos a ter liberdade sexual e deixamos para ter filhos mais tarde, se calhar. Somos presidentes, diretoras, empresárias, ministras. Sustentamos a casa. Escolhemos nossos carros. Viajamos a serviço. Saímos à noite com as migas. Praticamos boxe. O que é ser mulher é praticamente ser um homem. 
Nossa masculinização é um fato ok, nenhuma desistirá de tudo o que conquistou. A independência é um ganho real para nós, para a nossa família e para sociedade. Saímos da sombra e passamos a existir de forma plena. E o mundo se tornou mais heterogêneo e democrático, mais dinâmico e produtivo, em suma: muito mais interessante. Mas não nos deram nada de mão de beijada, ganhamos posições no grito, falando grosso. E agora está difícil reconhecer nossa própria voz.
"Sou mais macho que muito homem" não apenas o verso de uma música de Rita Lee, é pensamento recorrente de cérebros femininos. Alguém ainda conhece uma mulher reprimida, omissa, sem opinião, sem pulso? Foram extintas e deram lugar ás eloquentes.
Nada de errado, repito. Acumulamos uma energia bivolt e isso tem nos trazido inúmeros benefícios, nos integralizamos. Mas essa nova mulher ainda está se permitindo ser frágeis, por que não nos que temos os royalties dessa condição?
É o amor que a mulher recupera sua feminilidade. É na relação a dois. Na autorização que dá a si mesma de se sentir cansada e de permitir que o outro tome decisões e a surpreenda. É através do amor que voltamos a confiar cegamente, baixar a guarda e a deixar que nos seduzam - sem consideram ofensivo. muitas mulheres estão desistindo de investir num relacionamento por se julgarem incapazes de jogar o jogo ancestral: eu provedor; você, minha fêmea. Os homens sabem que já não iremos nos contentar em receber mesada e ficar em casa guardando a ninhada, mas, na intimidade, que tal deixarmos a testosterona e o estrogênio interpretarem sus papeis convencionais? 
Um amor sem tanta racionalidade, sem demarcação de território, sem guerra pelo poder. Amolecer de vez em quando, com entrega, com gosto. É onde ainda podemos ressuscitar a mulher que formos, sem prejuízo à mulher que somos.


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