24 de maio de 2014

Pouco me importa os olhares

Sling
Resolvi escrever, para tentar ilustrar um pouco do que um pai que carrega seu filho no sling passa ao sair de casa. Olhares julgadores, apontamento de dedos, risos e uma série de reações que te fazem perguntar: O que estou fazendo de errado?
Não sei se isso é uma cultura do interior, mas agora que sou pai, levo ao pé da letra o ditado que diz: Não se importe com que os outros dizem. Sempre existirão os difamadores, os preconceituosos, os faladores que irão sim, te apontar e criar mil ideias maliciosas sobre sua pessoa, mas também sempre existirão os pais que se agarram, assim como eu, na ideia de que tudo que envolva amor, carinho e cumplicidade para com seu filho é válido, independente de tudo e de todos.
Não foi somente minha vida que mudou com a chegada do Valentim. Foi minha percepção de mundo, de pessoas, de vida. Vejo hoje, um mundo desumano que vai receber o meu filho. Vejo esse mundo e penso que farei e suportarei de tudo para muda-lo, até mesmo, ser apontado na rua por estar carregando-o em um sling.
Sim, carrego-o, pois sei a importância de nossa aproximação, de nossa interação, do nosso envolvimento. Não o carreguei na barriga única e exclusivamente por questões naturais que me impediam e impedem, pois se possível fosse, teria com toda a satisfação do mundo, dividido a gestação com minha companheira.
Por outro lado, sei que numa cidade do interior, na qual vivemos hoje, eu posso me tornar um exemplo. Talvez o exemplo do cara que vai na padaria com seu filho a tira colo amarrado em um pedaço de pano. O pai que faz as vezes de mãe, carregando-o como se fosse uma mulher africana. O pai que auxilia a mãe a amamentar na rua ao primeiro sinal de tristeza do seu filho.
Sou pai, sou mãe, sou humano, sou amigo e sou mil e uma outras coisas para que meu filho seja uma criança amada. Para que ele saiba que é amado. Para que no futuro, ele se torne uma criança amorosa e respeitosa para com os seus. Eu crio, para que ele crie. Eu amo, para que ele possa amar. Eu acolho, para que ele possa acolher. Eu vivo o presente, para que ele possa viver o futuro. Em um mundo melhor, ou pelo menos, menos julgador.
Felipe Nunes, 27 anos, pai do Valentim que hoje está com dois meses. Valentim é filho de um lindo parto domiciliar. Nasceu na piscina, dentro do próprio quarto e fez com que eu tivesse uma bandeira para levantar. Apoiador agora, incontestável do parto domiciliar e natural em todas as situações. Sou mais um na luta por condições dignas e humanas para que mais crianças sejam acolhidas no colo de suas mães e não em um maca recebendo colírio de nitrato de prata em seus olhos.

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